Ana Paula Freitas e Lyvia Fernandes
O ano de 2020 foi marcado pela Covid-19 e seus efeitos no mundo todo. O isolamento foi necessário, porém causou diversos reflexos na rotina e na saúde mental dos indivíduos. O medo de perder os familiares ou ser infectado, preocupação financeira, ansiedade com um futuro incerto, privação de liberdade, excesso de tarefas, saudades de pessoas amadas, são algumas dos problemas que têm sido frequentes nas vidas e lares de pessoas em nosso país. Há inúmeras formas de buscar refúgio diante das sensações e dos sentimentos pessimistas, e parece que a mais utilizada tem sido a comida, como por exemplo, os chocolates, biscoitos e salgadinhos, que se consumidos diariamente, podem causar problemas de saúde.
Uma pesquisa realizada na internet, mostra que 63% dos jovens e adultos na faixa dos 18 aos 29 anos, estão consumindo chocolates e outros doces em dois dias ou mais na semana. Houve um aumento de 6% em relação ao período anterior a pandemia. Igualmente, o consumo de embutidos (salsichas, linguiças, presunto, mortadela, salame) e hambúrgueres subiu 5%; e o de congelados, 4%. No entanto, a pesquisa feita pela fundação Oswaldo Cruz, aponta uma queda no consumo de alimentos saudáveis. A ingestão de frutas, verduras e legumes caiu 4% em uma semana após a chegada da pandemia.
Buscando entender melhor a relação “brasileiro + alimentação + pandemia”, entrevistamos a nutricionista Isa Polastri, de Juiz de Fora- MG, que trabalha desde 2018 na clínica Casule.
1- Isa, você como profissional na área, concorda que a quarentena realmente mudou os hábitos alimentares das pessoas?
R: Sim, a quarentena influenciou de duas maneiras o hábito alimentar das pessoas: alguns, por estarem mais tempo em casa, aproveitaram para cozinhar com a família. Resgataram tradições, criaram memórias! Tinham mais tempo disponível para preparar comida de verdade e isso trouxe mais saúde, qualidade de vida e até levou algumas pessoas ao emagrecimento. Por outro lado, outras pessoas passaram longo tempo em um comer emocional, descontando a ansiedade e a preocupação na comida, aumentando o consumo de alimentos empacotados, doces, fast foods em delivery, o que acaba sendo uma alimentação pobre em nutrientes e que traz prejuízos ao organismo.
2- Como ter uma alimentação saudável em tempos de pandemia onde as questões psicológicas são e devem ser levadas em conta?
R: Discernir o tipo de fome que sente (física, social, emocional, vontade genuína) é importante para saber lidar com cada uma delas. Caso seja emocional, tenha em mente atividades que podem oferecer a mesma satisfação que comer: ligar pra uma amiga, fazer uma caminhada ao ar livre, assistir a uma série ou escutar sua música preferida. Buscar apoio psicológico em terapia e usar os medicamentos prescritos por médico psiquiatra caso necessario, pode facilitar o encontro de um equilíbrio alimentar entre o que é preciso comer para ter saúde e o que é desejado comer para ter prazer.
3- A ansiedade é um grande fator para o consumo em excesso. Tem algum alimento que, quando consumido, produz a sensação de saciedade e evite esse “exagero”?
R: Alimentos ricos em fibras aumentam a saciedade, como os integrais, as frutas com casca e bagaço, as folhas e legumes crus, as sementes e farelos (como chia, aveia). A saciedade também aumenta quando fazemos boas combinações. Ex: se comermos pão com manteiga, provavelmente vamos querer mais de um. Se comermos pão com um bife ou um ovo, alface e tomate, a saciedade será maior. O mesmo acontece em uma macarronada, que a saciedade é bem maior se combinarmos com um molho de carne moída, brócolis, tomate cereja. O hábito que chamamos mindful eating ou comer com atenção plena pode ser introduzido para que a pessoa se conecte com o alimento, coma com tranquilidade e encontre sua satisfação em quantidade suficiente.
4- Qual a dica que você dá para aqueles que, como citado na introdução, têm problemas com doces, frituras e embutidos?
R: A dica é entender o que funciona para você: diminuir a frequência com que come (ex: dia sim, dia não, ao invés de todo dia)? Comprar quantidades menores (ex: um bombom ao invés de uma barra de chocolate)? Encontrar alimentos mais naturais que você goste e consiga variar com os que foram citados acima? O que realmente vai importar na nossa saúde é o que fazemos como base: se conseguirmos basear a nossa alimentação em comida de verdade, natural, colorida e variada, não teremos impactos negativos ao comer doces, frituras ou embutidos eventualmente.
O cenário atual é de um momento conflitante, porém é possível amenizar o estresse dando prioridades para exercícios físicos, noite de jogos com a família, dando preferência para alimentos mais saudáveis. Além de investir em hábitos melhores, é importante cuidar da qualidade da saúde mental e ajudar uns aos outros.
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