Por Thais Bezerra da Silva
Nos últimos dias, Lidiane Biezok, 45, que afirma ser advogada, viralizou na internet ao ser gravada em um vídeo ofendendo clientes de uma padaria, Dona Deôla, em São Paulo, na última sexta-feira, 20. Nas imagens a advogada, está aparentemente alcoolizada, ao entrar na padaria dispara ofensas racistas aos funcionários e clientes. Não é possível ver nas imagens, mas a mulher foi presa em flagrante pela PM.
Duas vítimas prestaram boletim de ocorrência no 91º Distrito Policial (DP), Ceasa, e o caso será investigado. A mulher alega ser inocente e disse que se sentiu acuada ao ser provocada por outros clientes, e acabou revidando de forma agressiva, disse ao G1.
Só neste mês é o segundo caso de racismo com grande repercussão na mídia brasileira, um dia antes desse acontecimento, João Alberto, um homem negro de 40 anos, foi assassinado no Carrefour por dois seguranças, na cidade de Porto Algre (RS).
Ambos os casos estão em investigação, e chamam a atenção pelo crime de racismo presente nas duas situações. Há uma crescente onda de racismo nas redes sociais, mas em contrapartida a repercussão e mobilização de movimentos negros têm trazido a tona uma revolta dessas minorias contra a intolerância e atos de preconceito. Não restando outra saída senão reforçar a necessidade da justiça e de punições contra atitudes racistas presente no dia a dia.
Em tempos de globalização e trocas culturais, tenho a impressão que parte da população esquece suas raízes. O Brasil foi construído por mãos escravas, cabeças disciplinas e um pesar irreparável. O pior da escravidão nem de longe é o trabalho forçado, e sim a insegurança de si e dos seus, o peso do medo de cada expressão, a incerteza do seu destino, a sua existência governada pelo chicote, a bondade do senhor medida pelo seu bom humor e pela obediência do escravo seja qual for a ordem dada. Uma lei vã nunca será capaz de devolver a civilidade que a escravidão tomou, bárbaros somos por queremos ser, por assim nos alimentarmos, nos enriquecermos, nos deleitarmos de todos os prazeres possíveis em contrapartida da nudez negra.
Vemos essa exploração e ideia de superioridade branca no dia a dia, está enraizada seja na elite, seja na burguesia. Não há até hoje um equilíbrio entre a casa grande e a senzala, mesmo tendo na alma a marca da influência negra. Como dizia Gilberto Freyre “Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo (…) a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena e do negro.”
Infelizmente a nossa cultura tem um sistema político caracterizado pelos interesses pessoais da elite que contrapõe aos demais. Fato esse que está impregnado desde a colonização até os tempos atuais, que impedem o bom convívio.
Como já dizia Sérgio Buarque de Holanda, enquanto não rompermos com a ideia de que o Brasil pertence à elite, e deixar de lado os vícios da colonização, não poderemos alcançar a modernização.
Comments